Cultura Maia
Provavelmente a primeira civilização a florescer no hemisfério ocidental, os maias ocuparam a América Central por mais de vinte séculos e atingiram um grau de evolução, no que se refere ao conhecimento de matemática e astronomia, capaz de sobrepujar as culturas europeias da mesma época.
A cultura maia floresceu entre o início da era cristã e a chegada dos conquistadores espanhóis, no século XVI, num vasto território que abrange Belize, parte da Guatemala e de Honduras e a península de Yucatán, no sul do México. Os maias não formavam um povo único, e sim uma reunião de diferentes grupos étnicos e linguísticos como os huastecas, os tzental-maia e os tzotzil.
Há poucos relatos contemporâneos à conquista espanhola. Os espanhóis, no afã de erradicar o politeísmo e introduzir a fé cristã, destruíram a maioria dos códices maias, manuscritos com representações de cenas e hieróglifos de ambos os lados. As primeiras escavações arqueológicas em ruínas maias foram realizadas no fim do século XVIII, mas as explorações sistemáticas só começaram na década de 1830. Com base nas descobertas iniciais a respeito do sistema de escrita dos maias, revelado no princípio e em meados do século XX, os antropólogos imaginaram que a sociedade maia era pacífica e totalmente devotada a suas atividades religiosas e culturais, em contraste com os impérios indígenas mais guerreiros e sanguinários do México central. Contudo, a decifração completa da escrita hieroglífica maia forneceu um retrato mais verdadeiro da cultura e da sociedade daquele povo. Descobriu-se que muitos dos hieróglifos representavam histórias de soberanos que moviam guerra a cidades rivais e sacrificavam prisioneiros em honra aos deuses.
História. Os ancestrais do povo maia foram, provavelmente, grupos mongóis que atravessaram uma faixa de terra entre a Sibéria e o Alasca, onde hoje é o estreito de Bering, há cerca de 15.000 anos, no final do pleistoceno. Na reconstrução histórica da evolução dos maias, distinguem-se três grandes períodos: o pré-clássico ou formativo, o clássico ou antigo império e o pós-clássico ou novo império.
Período pré-clássico ou formativo (1500 a.C.-250 da era cristã). Os maias organizaram-se inicialmente em pequenos núcleos sedentários baseados no cultivo do milho, feijão e abóbora. Construíram centros cerimoniais que, por volta do ano 200 da era cristã, evoluíram para cidades com templos, pirâmides, palácios e mercados. Também desenvolveram um sistema de escrita hieroglífica, um calendário e uma astronomia altamente sofisticados. Sabiam fazer papel a partir da casca de fícus e com ele produziam livros.
Período clássico ou antigo império (séculos III-IX). Em seu auge, a civilização maia abrangia mais de quarenta cidades e acredita-se que a população tenha alcançado dois milhões de habitantes, a maioria dos quais ocupava as planícies da região onde hoje é a Guatemala. As principais cidades eram Tikal, Uaxactún, Copán, Bonampak, Palenque e Río Bec. A população vivia fora dos grandes centros e as classes altas em bairros próximos. Disperso em aldeias dedicadas à agricultura, o povo deslocava-se até os núcleos urbanos apenas para celebrar rituais religiosos e fazer negócios.
A expansão territorial empreendida no final do século IV para o oeste e o sudeste fez surgir os centros populacionais de Palenque, Piedras Negras e Copán. Impulsionados provavelmente pelo aumento populacional que resultou de um período de excedentes agrícolas, os maias prosseguiram rumo ao norte até controlarem toda a península de Yucatán. O apogeu cultural -- de que dão testemunho as ruínas dos templos de Palenque, Tikal e Copán, as numerosas estelas com relevos hieroglíficos e a rica cerâmica policromada e figurativa -- ocorreu na segunda metade do século VIII. Acredita-se que nesse período as cidades-estado maias formavam uma espécie de federação de caráter teocrático e estritamente hierarquizada em diferentes classes sociais.
Seguiu-se a esse período pacífico uma fase de decadência cujas causas são desconhecidas. Possivelmente uma catástrofe, uma invasão estrangeira inesperada ou uma epidemia, justifique a abrupta mudança de rumos. Uma revolta dos camponeses contra os sacerdotes e o empobrecimento do solo são, no entanto, os motivos mais plausíveis que teriam levado os maias a abandonarem os núcleos urbanos e arredores para se instalarem ao norte de Yucatán, onde começou a reorganização do estado que originou o novo império.
Período pós-clássico ou novo império (séculos X-XVI). Depois que a grande civilização maia da região central entrou em decadência, a da porção setentrional da península de Yucatán atingiu seu apogeu. O novo império ou período pós-clássico sofreu forte influência mexicana, como atestam o militarismo e o culto a Kukulcán (Quetzalcóatl, para os toltecas), simbolizado pela figura da serpente emplumada. Os núcleos principais desse período eram Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán.
No final do século XII, a cidade de Mayapán passou a dominar toda a península e organizou um império que durou até meados do século XV, quando líderes de outras cidades rebelaram-se contra essa hegemonia. Mayapán foi arrasada, e iniciou-se um novo e longo período de anarquia e desintegração da civilização maia. Ao caos resultante das lutas entre diversas cidades independentes pela primazia somaram-se desgraças naturais como o furacão de 1464 e a peste de 1480. Centros outrora esplendorosos foram abandonados e os maias voltaram a Petén, na região central.
Os espanhóis, que chegaram à costa de Yucatán em 1511, tiveram sua tarefa de conquista facilitada pela decadência maia e sua fragmentação interna. No final da década de 1520, todos os territórios de influência maia haviam sido dominados. Pedro de Alvarado conquistou a Guatemala em 1525, e Francisco de Montejo ocupou em 1527 o Yucatán, cuja conquista foi consolidada por seu filho e homônimo em 1536. Apenas a região central, sob controle dos itzás, permaneceu independente até 1697, quando foi ocupada por Martín de Ursúa.
Organização política e social.
Extremamente hierarquizada, a sociedade maia contava em cada cidade-estado com uma autoridade máxima, de caráter hereditário, dita halach-uinic ou "homem de verdade", que era assistido por um conselho de notáveis, composto pelos principais chefes e sacerdotes. O halach-uinic designava os chefes de cada aldeia (bataboob), que desempenhavam funções civis, militares e religiosas. A suprema autoridade militar (nacom) era eleita a cada três anos. Outros cargos importantes eram os guardiães (tupiles) e os conselheiros (ah holpopoob).
A nobreza maia incluía todos esses dignitários, além dos sacerdotes, guerreiros e comerciantes. A classe sacerdotal era muito poderosa, pois detinha o saber relativo à evolução das estações e ao movimento dos astros, de importância fundamental para a vida econômica maia, baseada na agricultura. O sumo sacerdote (ahau kan) dominava os segredos da astronomia, redigia os códices e organizava os templos. Tanto as artes quanto as ciências eram de domínio da classe sacerdotal. Abaixo do sumo sacerdote havia os ahkim, encarregados dos discursos religiosos, os chilan (adivinhos) e os ahmén (feiticeiros).
Os artesãos e camponeses constituíam a classe inferior (ah chembal uinicoob) e, além de se dedicarem ao trabalho agrícola e à construção de obras públicas, pagavam impostos às autoridades civis e religiosas. Na base da pirâmide social estava a classe escrava (pentacoob), integrada por prisioneiros de guerra ou infratores do direito comum, obrigados ao trabalho forçado até expiarem seus crimes.
Economia.
A base da economia era a agricultura primitiva praticada nas milpas, unidades de produção agrária. O trato da terra era comunal, em sistema rotativo de culturas, sem adubagem ou técnica elaborada, o que levava ao rápido esgotamento do solo e seu conseqüente abandono.
Na preparação do terreno a ser cultivado, os maias cortavam as árvores e arbustos com machados de pedra e depois queimavam-nos. As sementes eram plantadas em buracos cavados no solo por estacas de madeira pontiagudas. Esgotada a terra, os maias a deixavam alguns anos em repouso, sem cultivar, e novas áreas da floresta eram desmatadas para o plantio. As observações astronômicas davam aos maias o domínio sobre o fenômeno da mudança das estações, o que permitia obter melhores colheitas.
Os principais produtos cultivados eram em primeiro lugar o milho, mas também feijão, abóbora, vários tubérculos, cacau, mamão, abacate, algodão e tabaco. Os excedentes da colheita se destinavam ao comércio, na base do escambo ou troca, que alcançou notável desenvolvimento entre as principais cidades e gerou respeitada classe de comerciantes.
Os maias também se dedicavam à caça e à pesca e criavam animais para a alimentação. Desconheciam no entanto a tração animal, o arado e a roda. Por falta de matéria-prima local não conheceram também a metalurgia, mas desenvolveram importante indústria lítica (de pedra) que lhes fornecia armas, enfeites e instrumentos de trabalho. Tiveram ainda muita importância na civilização maia a produção de cerâmica (embora não conhecessem a roda de oleiro), a cestaria, a tecelagem e a arte lapidária.
Cultura e conhecimento.
A ascendência da cultura maia se revela no terreno intelectual. Os sacerdotes, detentores do saber, eram responsáveis pela organização do calendário, pela interpretação da vontade dos deuses por meio de seus conhecimentos dos astros e da matemática.
Os maias adoravam vários deuses que puderam ser identificados em códices do período pós-clássico e em muitos monumentos. Na maioria estavam associados à natureza, como os deuses da chuva, do solo, o deus Sol, a deusa Lua e um deus do milho. Para fazer pactos com esses deuses, o povo sacrificava animais e até seres humanos, em escala reduzida, e oferecia o próprio sangue. A partir do século X, passaram a adorar Kukulcán.
O desenvolvimento da aritmética permitiu cálculos astronômicos de notável exatidão. Os maias conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus, e provavelmente de outros planetas. Inventores do conceito de abstração matemática, os maias criaram um número equivalente a zero -- conceito até então desenvolvido apenas por uma civilização hindu primitiva -- e estabeleceram o valor relativo dos algarismos de acordo com sua posição. Seu sistema de numeração de base vinte era simbolizado por pontos e barras.
Graças a estudos minuciosos do movimento celeste em observatórios construídos para essa finalidade, os astrônomos maias foram capazes de determinar o ano solar de 365 dias. No calendário maia, havia um ano sagrado (de 260 dias) e um laico (de 365 dias), composto de 18 meses de vinte dias, seguidos de cinco dias considerados nefastos para a realização de qualquer empreendimento. Também adotavam um dia extra a cada quatro anos, como ocorre no atual ano bissexto.
Os dois calendários eram sobrepostos para formar a chamada roda ou calendário circular. Para situar os acontecimentos em ordem cronológica usava-se o método da "conta longa", a partir do ano zero, correspondente a 3114 a.C.. A inscrição da data registrava o número de ciclos -- kin (dia), uinal (mês), tun (ano), katun (vinte anos), baktun (400 anos) e alautun (64 milhões de anos) -- decorridos até a data considerada. Acrescentavam-se informações sobre a fase da Lua e aplicava-se uma fórmula de correção de calendário que harmonizava a data convencional com a verdadeira posição do dia no ano solar.
No campo da medicina, a ciência associava-se à magia tanto no diagnóstico quanto no tratamento das doenças. As causas das enfermidades podiam ser atribuídas a fenômenos naturais ou sobrenaturais e, segundo o caso, o médico ou feiticeiro receitava infusões, ungüentos, sangrias ou poções mágicas.
Informações sobre os conhecimentos científicos e os fatos históricos da civilização maia constam das diversas estelas hieroglíficas, algumas ainda indecifradas, e dos códices, a maior parte dos quais foi destruída pelos conquistadores espanhóis. Restam apenas três códices, em Dresden, na Alemanha; em Madri, na Espanha; e em Paris, na França. Outra importante fonte para o estudo dessa cultura milenar são os textos em língua maia que foram produzidos em alfabeto latino, no século XVI. Entre estes destacam-se o Popol Vuh, que abrange a mitologia e a cosmologia da civilização maia pós-clássica, e os livros de Chilam Balam, relatos históricos mesclados com mitos, adivinhações e profecias.
Arte.
No auge da civilização, a arte dos maias era fundamentalmente diferente de todas as outras da região, por ser muito narrativa, barroca e, com freqüência, extremamente exagerada, em comparação com a austeridade de outros estilos. A arquitetura, voltada sobretudo para o culto religioso, lançava mão de grandes blocos de pedra e caracterizava-se por abóbadas falsas e hieróglifos esculpidos ou pintados como motivos de decoração.
As construções que mais simbolizam a arquitetura da civilização são os templos decorados com murais e símbolos esculpidos, e construídos sobre pirâmides, com topos terraceados. Uma escadaria central num dos lados da pirâmide conduzia o sacerdote ao interior do santuário, enquanto o povo permanecia no sopé do monumento. Diante da escadaria, ergue-se, quase sempre, um monólito com a figura de um personagem aparatosamente vestido, rodeado de motivos simbólicos e hieróglifos. Um dos mais importantes monumentos desse tipo está situado nas ruínas de Chichén Itzá. Os palácios, com várias salas e pátios internos, tinham plantas simples e retangulares. Outras construções notáveis foram os observatórios astronômicos e as quadras para a disputa de um jogo de bola cujas regras são pouco conhecidas.
A escultura maia era subordinada à arquitetura como elemento decorativo e é também rica fonte de informações sobre a cultura. Em pedra, estuque e madeira, as esculturas decoravam lápides, dintéis, frisos e escadarias. Era ainda freqüente a instalação ao ar livre de estelas com relevos comemorativos, tais como as de Copán e Uaxactún.
Na pintura, são importantes os murais multicoloridos, com técnica de afresco, sobre temas religiosos ou históricos. A pintura era também empregada para decorar a cerâmica e ilustrar os códices. Notáveis exemplos de pintura mural foram encontrados em Bonampak (onde destaca-se a magnífica indumentária representada) e em Chichén Itzá. Os afrescos do templo de Cit Chac Cah (estado de Chiapas), possivelmente do século VII, foram executados em estilo realista e cores vivas, nas paredes das três salas de cinco metros de altura, com cenas religiosas e profanas.
A cerâmica maia pode ser dividida em dois grupos: os utensílios de cozinha do dia-a-dia, normalmente não-decorados, mas às vezes com formatos geométricos; e oferendas fúnebres. Os vasos destinados a acompanhar o corpo reverenciado eram geralmente pintados ou entalhados com cenas naturalistas ou freqüentemente macabras. Em Uaxactún, encontraram-se estatuetas muito primitivas, todas representando mulheres. Do período Chicanel, são outras estatuetas e vasos de formas simples, vermelhos e negros. Na fase seguinte, dita Tsakol, a cerâmica, mais apurada, apresenta grande diversidade de formas e acentuada estilização (Tikal e Uaxactún). A fase final, conhecida como Tepeu, caracteriza-se pela delicadeza das formas dos vasos, decorados com cenas e inscrições.
A pedra mais preciosa para os maias era o jade, bastante trabalhado pelos artesãos e modelado principalmente em forma de placas, relevos ou contas de colar. Dos trabalhos em jade, restam alguns exemplos como a placa de Leyden (Tikal) e a do Museu Britânico, de extraordinária perfeição.
Provavelmente a primeira civilização a florescer no hemisfério ocidental, os maias ocuparam a América Central por mais de vinte séculos e atingiram um grau de evolução, no que se refere ao conhecimento de matemática e astronomia, capaz de sobrepujar as culturas europeias da mesma época.
A cultura maia floresceu entre o início da era cristã e a chegada dos conquistadores espanhóis, no século XVI, num vasto território que abrange Belize, parte da Guatemala e de Honduras e a península de Yucatán, no sul do México. Os maias não formavam um povo único, e sim uma reunião de diferentes grupos étnicos e linguísticos como os huastecas, os tzental-maia e os tzotzil.
Há poucos relatos contemporâneos à conquista espanhola. Os espanhóis, no afã de erradicar o politeísmo e introduzir a fé cristã, destruíram a maioria dos códices maias, manuscritos com representações de cenas e hieróglifos de ambos os lados. As primeiras escavações arqueológicas em ruínas maias foram realizadas no fim do século XVIII, mas as explorações sistemáticas só começaram na década de 1830. Com base nas descobertas iniciais a respeito do sistema de escrita dos maias, revelado no princípio e em meados do século XX, os antropólogos imaginaram que a sociedade maia era pacífica e totalmente devotada a suas atividades religiosas e culturais, em contraste com os impérios indígenas mais guerreiros e sanguinários do México central. Contudo, a decifração completa da escrita hieroglífica maia forneceu um retrato mais verdadeiro da cultura e da sociedade daquele povo. Descobriu-se que muitos dos hieróglifos representavam histórias de soberanos que moviam guerra a cidades rivais e sacrificavam prisioneiros em honra aos deuses.
História. Os ancestrais do povo maia foram, provavelmente, grupos mongóis que atravessaram uma faixa de terra entre a Sibéria e o Alasca, onde hoje é o estreito de Bering, há cerca de 15.000 anos, no final do pleistoceno. Na reconstrução histórica da evolução dos maias, distinguem-se três grandes períodos: o pré-clássico ou formativo, o clássico ou antigo império e o pós-clássico ou novo império.
Período pré-clássico ou formativo (1500 a.C.-250 da era cristã). Os maias organizaram-se inicialmente em pequenos núcleos sedentários baseados no cultivo do milho, feijão e abóbora. Construíram centros cerimoniais que, por volta do ano 200 da era cristã, evoluíram para cidades com templos, pirâmides, palácios e mercados. Também desenvolveram um sistema de escrita hieroglífica, um calendário e uma astronomia altamente sofisticados. Sabiam fazer papel a partir da casca de fícus e com ele produziam livros.
Período clássico ou antigo império (séculos III-IX). Em seu auge, a civilização maia abrangia mais de quarenta cidades e acredita-se que a população tenha alcançado dois milhões de habitantes, a maioria dos quais ocupava as planícies da região onde hoje é a Guatemala. As principais cidades eram Tikal, Uaxactún, Copán, Bonampak, Palenque e Río Bec. A população vivia fora dos grandes centros e as classes altas em bairros próximos. Disperso em aldeias dedicadas à agricultura, o povo deslocava-se até os núcleos urbanos apenas para celebrar rituais religiosos e fazer negócios.
A expansão territorial empreendida no final do século IV para o oeste e o sudeste fez surgir os centros populacionais de Palenque, Piedras Negras e Copán. Impulsionados provavelmente pelo aumento populacional que resultou de um período de excedentes agrícolas, os maias prosseguiram rumo ao norte até controlarem toda a península de Yucatán. O apogeu cultural -- de que dão testemunho as ruínas dos templos de Palenque, Tikal e Copán, as numerosas estelas com relevos hieroglíficos e a rica cerâmica policromada e figurativa -- ocorreu na segunda metade do século VIII. Acredita-se que nesse período as cidades-estado maias formavam uma espécie de federação de caráter teocrático e estritamente hierarquizada em diferentes classes sociais.
Seguiu-se a esse período pacífico uma fase de decadência cujas causas são desconhecidas. Possivelmente uma catástrofe, uma invasão estrangeira inesperada ou uma epidemia, justifique a abrupta mudança de rumos. Uma revolta dos camponeses contra os sacerdotes e o empobrecimento do solo são, no entanto, os motivos mais plausíveis que teriam levado os maias a abandonarem os núcleos urbanos e arredores para se instalarem ao norte de Yucatán, onde começou a reorganização do estado que originou o novo império.
Período pós-clássico ou novo império (séculos X-XVI). Depois que a grande civilização maia da região central entrou em decadência, a da porção setentrional da península de Yucatán atingiu seu apogeu. O novo império ou período pós-clássico sofreu forte influência mexicana, como atestam o militarismo e o culto a Kukulcán (Quetzalcóatl, para os toltecas), simbolizado pela figura da serpente emplumada. Os núcleos principais desse período eram Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán.
No final do século XII, a cidade de Mayapán passou a dominar toda a península e organizou um império que durou até meados do século XV, quando líderes de outras cidades rebelaram-se contra essa hegemonia. Mayapán foi arrasada, e iniciou-se um novo e longo período de anarquia e desintegração da civilização maia. Ao caos resultante das lutas entre diversas cidades independentes pela primazia somaram-se desgraças naturais como o furacão de 1464 e a peste de 1480. Centros outrora esplendorosos foram abandonados e os maias voltaram a Petén, na região central.
Os espanhóis, que chegaram à costa de Yucatán em 1511, tiveram sua tarefa de conquista facilitada pela decadência maia e sua fragmentação interna. No final da década de 1520, todos os territórios de influência maia haviam sido dominados. Pedro de Alvarado conquistou a Guatemala em 1525, e Francisco de Montejo ocupou em 1527 o Yucatán, cuja conquista foi consolidada por seu filho e homônimo em 1536. Apenas a região central, sob controle dos itzás, permaneceu independente até 1697, quando foi ocupada por Martín de Ursúa.
Organização política e social.
Extremamente hierarquizada, a sociedade maia contava em cada cidade-estado com uma autoridade máxima, de caráter hereditário, dita halach-uinic ou "homem de verdade", que era assistido por um conselho de notáveis, composto pelos principais chefes e sacerdotes. O halach-uinic designava os chefes de cada aldeia (bataboob), que desempenhavam funções civis, militares e religiosas. A suprema autoridade militar (nacom) era eleita a cada três anos. Outros cargos importantes eram os guardiães (tupiles) e os conselheiros (ah holpopoob).
A nobreza maia incluía todos esses dignitários, além dos sacerdotes, guerreiros e comerciantes. A classe sacerdotal era muito poderosa, pois detinha o saber relativo à evolução das estações e ao movimento dos astros, de importância fundamental para a vida econômica maia, baseada na agricultura. O sumo sacerdote (ahau kan) dominava os segredos da astronomia, redigia os códices e organizava os templos. Tanto as artes quanto as ciências eram de domínio da classe sacerdotal. Abaixo do sumo sacerdote havia os ahkim, encarregados dos discursos religiosos, os chilan (adivinhos) e os ahmén (feiticeiros).
Os artesãos e camponeses constituíam a classe inferior (ah chembal uinicoob) e, além de se dedicarem ao trabalho agrícola e à construção de obras públicas, pagavam impostos às autoridades civis e religiosas. Na base da pirâmide social estava a classe escrava (pentacoob), integrada por prisioneiros de guerra ou infratores do direito comum, obrigados ao trabalho forçado até expiarem seus crimes.
Economia.
A base da economia era a agricultura primitiva praticada nas milpas, unidades de produção agrária. O trato da terra era comunal, em sistema rotativo de culturas, sem adubagem ou técnica elaborada, o que levava ao rápido esgotamento do solo e seu conseqüente abandono.
Na preparação do terreno a ser cultivado, os maias cortavam as árvores e arbustos com machados de pedra e depois queimavam-nos. As sementes eram plantadas em buracos cavados no solo por estacas de madeira pontiagudas. Esgotada a terra, os maias a deixavam alguns anos em repouso, sem cultivar, e novas áreas da floresta eram desmatadas para o plantio. As observações astronômicas davam aos maias o domínio sobre o fenômeno da mudança das estações, o que permitia obter melhores colheitas.
Os principais produtos cultivados eram em primeiro lugar o milho, mas também feijão, abóbora, vários tubérculos, cacau, mamão, abacate, algodão e tabaco. Os excedentes da colheita se destinavam ao comércio, na base do escambo ou troca, que alcançou notável desenvolvimento entre as principais cidades e gerou respeitada classe de comerciantes.
Os maias também se dedicavam à caça e à pesca e criavam animais para a alimentação. Desconheciam no entanto a tração animal, o arado e a roda. Por falta de matéria-prima local não conheceram também a metalurgia, mas desenvolveram importante indústria lítica (de pedra) que lhes fornecia armas, enfeites e instrumentos de trabalho. Tiveram ainda muita importância na civilização maia a produção de cerâmica (embora não conhecessem a roda de oleiro), a cestaria, a tecelagem e a arte lapidária.
Cultura e conhecimento.
A ascendência da cultura maia se revela no terreno intelectual. Os sacerdotes, detentores do saber, eram responsáveis pela organização do calendário, pela interpretação da vontade dos deuses por meio de seus conhecimentos dos astros e da matemática.
Os maias adoravam vários deuses que puderam ser identificados em códices do período pós-clássico e em muitos monumentos. Na maioria estavam associados à natureza, como os deuses da chuva, do solo, o deus Sol, a deusa Lua e um deus do milho. Para fazer pactos com esses deuses, o povo sacrificava animais e até seres humanos, em escala reduzida, e oferecia o próprio sangue. A partir do século X, passaram a adorar Kukulcán.
O desenvolvimento da aritmética permitiu cálculos astronômicos de notável exatidão. Os maias conheciam o movimento do Sol, da Lua e de Vênus, e provavelmente de outros planetas. Inventores do conceito de abstração matemática, os maias criaram um número equivalente a zero -- conceito até então desenvolvido apenas por uma civilização hindu primitiva -- e estabeleceram o valor relativo dos algarismos de acordo com sua posição. Seu sistema de numeração de base vinte era simbolizado por pontos e barras.
Graças a estudos minuciosos do movimento celeste em observatórios construídos para essa finalidade, os astrônomos maias foram capazes de determinar o ano solar de 365 dias. No calendário maia, havia um ano sagrado (de 260 dias) e um laico (de 365 dias), composto de 18 meses de vinte dias, seguidos de cinco dias considerados nefastos para a realização de qualquer empreendimento. Também adotavam um dia extra a cada quatro anos, como ocorre no atual ano bissexto.
Os dois calendários eram sobrepostos para formar a chamada roda ou calendário circular. Para situar os acontecimentos em ordem cronológica usava-se o método da "conta longa", a partir do ano zero, correspondente a 3114 a.C.. A inscrição da data registrava o número de ciclos -- kin (dia), uinal (mês), tun (ano), katun (vinte anos), baktun (400 anos) e alautun (64 milhões de anos) -- decorridos até a data considerada. Acrescentavam-se informações sobre a fase da Lua e aplicava-se uma fórmula de correção de calendário que harmonizava a data convencional com a verdadeira posição do dia no ano solar.
No campo da medicina, a ciência associava-se à magia tanto no diagnóstico quanto no tratamento das doenças. As causas das enfermidades podiam ser atribuídas a fenômenos naturais ou sobrenaturais e, segundo o caso, o médico ou feiticeiro receitava infusões, ungüentos, sangrias ou poções mágicas.
Informações sobre os conhecimentos científicos e os fatos históricos da civilização maia constam das diversas estelas hieroglíficas, algumas ainda indecifradas, e dos códices, a maior parte dos quais foi destruída pelos conquistadores espanhóis. Restam apenas três códices, em Dresden, na Alemanha; em Madri, na Espanha; e em Paris, na França. Outra importante fonte para o estudo dessa cultura milenar são os textos em língua maia que foram produzidos em alfabeto latino, no século XVI. Entre estes destacam-se o Popol Vuh, que abrange a mitologia e a cosmologia da civilização maia pós-clássica, e os livros de Chilam Balam, relatos históricos mesclados com mitos, adivinhações e profecias.
Arte.
No auge da civilização, a arte dos maias era fundamentalmente diferente de todas as outras da região, por ser muito narrativa, barroca e, com freqüência, extremamente exagerada, em comparação com a austeridade de outros estilos. A arquitetura, voltada sobretudo para o culto religioso, lançava mão de grandes blocos de pedra e caracterizava-se por abóbadas falsas e hieróglifos esculpidos ou pintados como motivos de decoração.
As construções que mais simbolizam a arquitetura da civilização são os templos decorados com murais e símbolos esculpidos, e construídos sobre pirâmides, com topos terraceados. Uma escadaria central num dos lados da pirâmide conduzia o sacerdote ao interior do santuário, enquanto o povo permanecia no sopé do monumento. Diante da escadaria, ergue-se, quase sempre, um monólito com a figura de um personagem aparatosamente vestido, rodeado de motivos simbólicos e hieróglifos. Um dos mais importantes monumentos desse tipo está situado nas ruínas de Chichén Itzá. Os palácios, com várias salas e pátios internos, tinham plantas simples e retangulares. Outras construções notáveis foram os observatórios astronômicos e as quadras para a disputa de um jogo de bola cujas regras são pouco conhecidas.
A escultura maia era subordinada à arquitetura como elemento decorativo e é também rica fonte de informações sobre a cultura. Em pedra, estuque e madeira, as esculturas decoravam lápides, dintéis, frisos e escadarias. Era ainda freqüente a instalação ao ar livre de estelas com relevos comemorativos, tais como as de Copán e Uaxactún.
Na pintura, são importantes os murais multicoloridos, com técnica de afresco, sobre temas religiosos ou históricos. A pintura era também empregada para decorar a cerâmica e ilustrar os códices. Notáveis exemplos de pintura mural foram encontrados em Bonampak (onde destaca-se a magnífica indumentária representada) e em Chichén Itzá. Os afrescos do templo de Cit Chac Cah (estado de Chiapas), possivelmente do século VII, foram executados em estilo realista e cores vivas, nas paredes das três salas de cinco metros de altura, com cenas religiosas e profanas.
A cerâmica maia pode ser dividida em dois grupos: os utensílios de cozinha do dia-a-dia, normalmente não-decorados, mas às vezes com formatos geométricos; e oferendas fúnebres. Os vasos destinados a acompanhar o corpo reverenciado eram geralmente pintados ou entalhados com cenas naturalistas ou freqüentemente macabras. Em Uaxactún, encontraram-se estatuetas muito primitivas, todas representando mulheres. Do período Chicanel, são outras estatuetas e vasos de formas simples, vermelhos e negros. Na fase seguinte, dita Tsakol, a cerâmica, mais apurada, apresenta grande diversidade de formas e acentuada estilização (Tikal e Uaxactún). A fase final, conhecida como Tepeu, caracteriza-se pela delicadeza das formas dos vasos, decorados com cenas e inscrições.
A pedra mais preciosa para os maias era o jade, bastante trabalhado pelos artesãos e modelado principalmente em forma de placas, relevos ou contas de colar. Dos trabalhos em jade, restam alguns exemplos como a placa de Leyden (Tikal) e a do Museu Britânico, de extraordinária perfeição.
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