Cultura Grega: Arte na Grécia Antiga

Arte Grega

     A síntese de realismo e idealismo, que consiste em harmonizar as formas da natureza com as formas ditadas pelo espírito, percorre toda a arte produzida na Grécia antiga e constitui um princípio básico da estética ocidental, especialmente em seus momentos de recuperação dos valores clássicos.
     A arte grega antiga remonta ao segundo milênio antes da era cristã e originou-se na ilha de Creta, próspero núcleo comercial, famoso pela decoração suntuosa de palácios como Cnossos e Festo. No continente, a civilização micênica criou uma arte própria que deixou traços profundos na cultura helênica. No primeiro milênio a.C. produziu-se a arte grega propriamente dita, que nos séculos IV e III a.C., por intermédio de Alexandre o Grande e seus sucessores, propagou-se para além do Egeu e do Mediterrâneo e chegou até a Índia.

Período protogeométrico (1000-900 a.C.)

     Com a invasão dórica, por volta de 1000 a.C., surgiu o estilo de pintura de vasos de cerâmica denominado protogeométrico. Enquanto a decoração da cerâmica minóica e micênica consistia num traçado livre, de padrões pouco ordenados, a protogeométrica usava linhas pretas e brancas paralelas, de traçado rígido. As faixas brancas às vezes exibiam semicírculos concêntricos traçados a compasso.      O novo estilo apresentava também maior sentido de composição dos diversos elementos ornamentais e uma adequação mais perfeita entre a forma do vaso e seus motivos decorativos. Os diversos tipos de cerâmica mostravam na forma seu uso principal: servir vinho, carregar água ou armazenar cereais, perfumes e unguentos. Atenas foi o maior centro produtor da cerâmica protogeométrica, que, no entanto, se elaborava em toda a Grécia e mesmo na Anatólia.

Período geométrico (900-700 a.C)

     Ainda no período subseqüente à invasão dos povos do mar que desarticulou a florescente sociedade micênica, conhecido como Idade das Trevas (séculos XII a VIII a.C.), o estilo protogeométrico evoluiu para a ornamentação cerâmica da fase geométrica. Combinações de retas, labirintos denominados "gregas", triângulos e ziguezagues sublinhavam as formas do vaso, do gargalo ao pedestal. Os melhores exemplos são as urnas funerárias de fundo geralmente castanho, com as silhuetas em negro, encontradas num cemitério junto à porta Dípilo em Atenas. Nessa mesma época surgiram as figuras humanas na decoração dos vasos, estilizadas geometricamente, que ainda não levavam em conta a proporção.
    A partir do século VII, a escultura de terracota e bronze tornou-se abundante. De dimensões reduzidas, mostrava a mesma tendência a subordinar as formas naturais a um severo esquema geométrico. O modo como as partes desses objetos se relacionam entre si e com o todo a que pertencem revela com nitidez o amor grego à proporção.

Período orientalizante (700-600 a.C)

     Os motivos orientais começam a aparecer na arte grega com as conquistas de Alexandre o Grande e com a expansão comercial que levou a Grécia a ter contato cada vez maior com o Egito, a Anatólia e o Oriente Médio. A partir do século VIII a.C., os tradicionais padrões geométricos dos vasos de cerâmica foram substituídos por temas típicos do Oriente como a rosácea, a palmeta, o grifo, a esfinge e a sereia.
     O centro artístico da Grécia se deslocou de Atenas para Rodes e, sobretudo, Corinto. O produto estético mais representativo do período é a cerâmica protocoríntia (725-650 a.C.) e coríntia (650-550 a.C.). A cerâmica protocoríntia tinha como motivos ornamentais básicos os frisos com animais e cenas bélicas, em escala reduzida, apta a decorar pequenos vasos como aríbalos e píxides. As figuras eram em geral pintadas em preto sobre fundo branco, com detalhes incisos sobre os quais se adicionava o vermelho. O estilo coríntio apresentava figuras maiores, de desenho um pouco mais tosco. Embora ainda bidimensionais, as figuras transmitiam um sentido de realidade
física pelas formas exuberantes, cheias de detalhes ornamentais e vazadas em meio a uma policromia simbólica.
     Durante o século VII a.C., começou a desenvolver-se em Atenas o estilo proto-ático de cerâmica, com figuras mais dimensionadas, todas esboçadas linearmente. O repertório formal para a decoração da cerâmica foi fornecido pela mitologia grega, mas também trazia representações de monstros e animais. A escultura continuava a empregar terracota e bronze, dentro da tradição estilística conhecida como dedálica, preocupada sobretudo com a forma humana. Por volta de 650 a.C., surgiu, nas ilhas do mar Egeu, a escultura em pedra, de grandes proporções. É visível a influência da escultura egípcia, com a qual os gregos entraram em contato em Náucratis, sua colônia no delta do Nilo. A mais antiga escultura grega dentre as que revelam a influência egípcia é possivelmente a estátua dedicada por Nicandro a Ártemis, em Delos (c. 650 a.C.), hoje no Museu Nacional de Atenas. Do ponto de vista estilístico, no entanto, a escultura é considerada dedálica.
    Os principais centros de produção de escultura metálica, por volta do século VII a.C., foram Olímpia e Dreros, na ilha de Creta. Por volta do ano 680 a.C. foram cunhadas em Mileto as primeiras moedas gregas, seguidas, no continente, pelas moedas de Egina. Ambas apresentavam, em linhas gerais, as características de estilo presentes nas demais manifestações artísticas da época.
     Ainda no século VII a.C., destaca-se a inclusão de elementos esculturais decorativos na arquitetura, com o surgimento dos primeiros relevos a acompanhar os estilos dórico e jônico.

Período arcaico (600-500 a.C.)

     O estilo orientalizante evoluiu para o arcaico, sem rompimento dos vínculos culturais, mas pela gradativa assimilação dos elementos alienígenas no repertório artístico nacional grego, já perfeitamente articulado no fim do século VII. Tiveram início então a grande estatuária e os baixos-relevos de características monumentais. Surgiram ainda o koúros (termo genérico para a estátua masculina, de pé) e a kóre (donzela de túnica), ainda de influência egípcia pela rigidez e ausência de movimento. Destacam-se as formas atléticas do koúros de Anaviso (c. 650 a.C), as figuras aristocráticas de meados do século (koúroi de Milo e de Tênea) e o monumentalismo do grupo de Súnio (600 a.C.). A escultura arquitetônica chegou ao apogeu na decoração dos frontões do templo de Aféia, em Egina (c. 490 a.C.), que resolveu problemas de composição insolúveis um século antes, e dos frontões do templo de Ártemis, em Corfu.
    No fim do século VII a.C., Atenas voltou a ser o principal centro de cerâmica pintada (estilo de figuras negras). A acrópole era o centro da atividade artística, com templos, capelas, mercados e tesouros. Em meados do século VI a.C., Exéquias foi o artista que representou o ponto alto da produção de cerâmica (como em "Aquiles e Ajax", ânfora dos Museus do Vaticano).
Por volta de 525 a.C., entrou em cena um novo estilo: o das figuras vermelhas, deixadas na cor natural da argila para contrastar com o fundo pintado de negro. O novo estilo permitia ao artista desenhar, em vez de grafar, detalhes naturalistas, dentro da tendência geral observada na pintura mural e de cavalete. Os motivos decorativos eram numerosos e incluíam cenas cotidianas ao lado de representações heroicas.

Período clássico (500-300 a.C.)

     No início do século V a.C. a arte grega subtraiu-se à influência jônica, proveniente das ilhas do mar Egeu e cidades litorâneas da Anatólia, o que deu lugar a uma reação dórica, mais evidente após o começo das guerras greco-pérsicas. A vitória sobre os persas transmitiu aos gregos uma noção de segurança e independência que se transmitiu a sua arte, livrando-a de todo remanescente oriental.
Na segunda metade do século V, a arte clássica grega atingiu o apogeu, superando inteiramente os traços arcaicos e dirigindo-se rapidamente para o realismo idealizado e para o rigoroso equilíbrio que se revelou no estilo "severo" não só na escultura, como nas demais artes e na arquitetura. Nasceu então uma concepção tipicamente grega do universo, totalmente desligada de tradições culturais ou intelectuais herdadas do mundo antigo.
     O novo conceito helênico da ordem universal e a vocação heroica influenciaram toda a produção artística grega. O ideal puramente helênico se manifestou em grupos escultóricos como "Os tiranicidas" de Crítio e Nesíotes, e "Auriga de Delfos", de autor ignorado, e culminou por volta de 457 a.C. nos frontões do templo de Zeus, em Olímpia.
     Entre as esculturas de Míron (c. 480-c. 445 a.C.), cuja obra sobreviveu graças a cópias romanas, é famoso o "Discóbolo", obra-prima na qual o artista procurou representar o máximo da tensão que antecede o movimento, ideal do período clássico. Pitágoras de Samos (primeira metade do século V a.C.), considerado introdutor do realismo na arte grega, foi o primeiro escultor a realçar a importância do ritmo e da simetria.
    Do início do período clássico há registros de dois grandes pintores: Polignoto de Tasos, criador do idealismo clássico, que aperfeiçoou a "técnica das quatro cores" (vermelho, negro, amarelo e branco) e introduziu os primeiros rudimentos da composição espacial tridimensional; e seu contemporâneo Mícon. Infelizmente, suas obras se perderam. Nesse período, a pintura em cerâmica entrou em declínio e não mais se recuperou.
     Tal como Míron e Pitágoras de Samos reformularam a escultura, no começo da fase clássica, Fídias e Policleto representaram sua fase áurea e abriram caminho para a arte posterior. Em quase todas suas obras, entre elas "Doríforo" e "Diadúmero", Policleto de Argos (ativo entre 450-405 a.C.) procurou definir a postura que melhor valorizasse o equilíbrio sutil e vigoroso do corpo masculino em repouso mas pronto à ação. Fídias, de Atenas, escultor, ourives, arquiteto e pintor, restabeleceu a serenidade e a calma olímpica que encarnam o primeiro período clássico. Entre suas obras, são notáveis as colossais estátuas criselefantinas (marfim e ouro) de Atena e Zeus.
     A arte grega atingiu seu ponto mais alto com o Pártenon (447-432 a.C.), templo que é, em si mesmo, uma obra-prima da arquitetura helênica, e cuja decoração, a cargo de Fídias, corporifica os mais altos ideais da sensibilidade nacional, num conjunto extraordinariamente harmônico de forma e estrutura. Toda a arte grega subseqüente foi influenciada pelo exemplo do Pártenon e mostrou a mesma concepção idealizada da forma humana e de suas proporções.
     No século IV, os escultores Timóteo, Escopas, Praxíteles e Lisipo acrescentam à tradição a dimensão emotiva. No estilo de Praxíteles, a constante foi a nota introspectiva. Lisipo estabeleceu novas proporções e uma certa tendência realista que já indicava a aproximação do período helenístico. O século IV presenciou também a atividade de um bom número de grandes pintores, como Zêuxis, Parrásio, Eufranor e Apeles, que se beneficiaram das lições de Apolodoro de Atenas (século V a.C.).
     Surgiu ainda nessa época uma nova forma de expressão artística, o mosaico, que começou no fim do século V a.C. em Olinto e Corinto e atingiu alto nível nas figurações murais de Pela, na Macedônia (século IV a.C.). Jóias gravadas, moedas e mobiliário acompanharam passo a passo a evolução estilística observada no período.

Período helenístico (300-100 a.C.)

     A Grécia continental passou a segundo plano quando, após a morte de Alexandre o Grande (323 a.C.), foram criados reinos independentes na costa da Anatólia e no Egito. O centro da produção artística do mundo helênico se deslocou para cidades como Rodes, Alexandria, Antioquia e Pérgamo. Deu-se a esse período o nome de helenístico, para diferenciá-lo do helênico. De modo geral, foram paulatinamente abandonados os princípios clássicos da harmonia rigorosamente orgânica e do movimento em potência, para representar o movimento desencadeado, de influência asiática.
Gradualmente, a arte deixou de satisfazer as necessidades estéticas das comunidades para preencher as dos indivíduos. Teve início o gosto pelo colossal, a estética do dramático, a representação da velhice, da fealdade e da infância e a multiplicação dos retratos individuais. Na arquitetura, a ordem dórica cedeu lugar ao estilo coríntio, de decoração profusa, como no templo de Zeus em Atenas. A cidade de Pérgamo destacou-se pelo altar de Zeus, com friso expressionista. Em Alexandria, ergueu-se o famoso farol, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
     A escultura foi a arte helenística por excelência. Lisipo, escultor oficial de Alexandre e autor do "Apoxiomenos" (cópia romana no Museu do Vaticano), introduziu uma nova concepção de realismo e foi imitado por Eutíquides e Fânias. Em Pérgamo, em meados do século III, um grupo de escultores assimilou as características da escola de Lisipo e do estilo mais tradicional em vigor em Atenas, ao qual, no entanto, adicionou elevado senso dramático, como no "Gaulês moribundo" (cópia romana no Museu Nacional de Roma). A dramaticidade da escola de Pérgamo teve, porém, sua maior expressão na escultura em relevo do grande altar do templo de Zeus, hoje em Berlim.
     Alexandria e Rodes foram também centros notáveis de escultura helenística. A escola de Rodes produziu o famoso "Colosso" (de Cares, seguidor de Lisipo), o grupo "Laocoonte" (Museu do Vaticano) e a "Vitória de Samotrácia" (Museu do Louvre). A "Vênus de Milo" (Museu do Louvre), cópia da escultura atribuída a Agesandro, atesta a vitalidade da arte do século II a.C. O contraste entre a sombra do manto e a suavidade do corpo lembra a escultura de Pérgamo, da mesma época.
No fim do período helenístico ocorreu em Atenas uma reação classicizante, responsável pelo surgimento do estilo denominado neo-ático, especializado no retrato e na reprodução de originais de épocas anteriores, que teve em Roma seu maior mercado

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