BAIXA IDADE MÉDIA.
Neste resumo, será analisada a estrutura do Sistema Feudal - seus aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais. Também será efetuada uma análise da crise do feudalismo, observando o Renascimento Comercial e Urbano, a formação das Monarquias Nacionais e as crises dos século XIV.
O FEUDALISMO.
I. Origens
O feudalismo europeu é resultado da síntese entre a sociedade romana em decadência e a sociedade bárbara em evolução. Esta síntese resulta nos chamados fatores estruturais para a formação do feudalismo. Roma contribui para a formação do feudalismo através dos seguintes elementos:
- a "villa", ou o latifúndio auto-suficiente;
- o desenvolvimento do colonato, segundo o qual o trabalhador ficava preso à terra;
- a Igreja Cristã, que se tornará na principal instituição medieval.
A crise romana reforça seu poder político local e consolida o processo de ruralização da economia.
Os Bárbaros contribuem com os seguintes elementos:
- uma economia centrada nas trocas naturais;
- o comitatus, instituição que estabelecia uma relação de fidelidade e reciprocidade entre os guerreiros e seus chefes;
- a prática do chamado benefício ( beneficium ), dando imunidade ao proprietário deste;
- o direito consuetudinário, isto é, os costumes herdados dos antepassados possuem força de lei.
Além destes elementos estruturais ( internos ), contribuíram também os chamados elementos conjunturais ( externos ) , que foram as Invasões Bárbaras dos séculos VIII ao IX - os normandos e os
muçulmanos.
Os normandos efetuam um bloqueio do mar Báltico e do mar do Norte e os muçulmanos realizam o bloqueio do mar Mediterrâneo. Estas invasões aceleram o processo de ruralização européia - em curso desde o século III - acentuando a economia agrária e auto-suficiente.
II. Estruturas feudais.
ESTRUTURA ECONÔMICA: a economia era basicamente agropastoril, de caráter auto-suficiente e com trocas naturais. O comércio, embora existisse, não foi a atividade predominante. As terras dos feudos eram divididas em três partes:
- terras coletivas ou campos abertos: de uso comum, onde se recolhiam madeira, frutos e efetuava-se a caça. Neste caso, temos uma posse coletiva da terra.
- reserva senhorial - de uso exclusivo do senhor feudal - é era a propriedade privada do senhor.
- Manso servil ou tenência: terras utilizadas pelos servos. Serviam para manter o sustento destes e para cumprimento das obrigações feudais.
O caráter auto-suficiente da economia feudal dava-se em virtude da baixa produtividade agrícola. O comércio, embora não fosse a atividade predominante, existia sob duas formas: o comércio local - onde realizava-se as trocas naturais; e o comércio a longa distância - responsável pelo abastecimento de determinados produtos, tais como o sal, pimenta, cravo, etc... O comércio a longa distância funcionava com trocas monetárias e, à partir do século XII terá um papel fundamental na economia européia.
ESTRUTURA POLÍTICA.
O poder político era descentralizado, ou seja, distribuído entre os grandes proprietários de terra ( os SENHORES FEUDAIS). Apesar da fragmentação do poder político, havia os laços de fidelidade pessoal ( a vassalagem). Por esta relação estabelecia-se o contrato feudo-vassálico, assim caracterizado:
Homenagem: juramento de fidelidade do vassalo para com o seu suserano;
Investidura: entrega do feudo do vassalo para o suserano. O suserano (aquele que concede o feudo) deveria auxiliar militarmente seu vassalo e também prestar assistência jurídica. O vassalo (aquele que recebe o feudo e promete fidelidade) deve prestar o serviço militar para o suserano e comparecer ao tribunal por ele presidido.
ESTRUTURA SOCIAL.
A sociedade feudal era do tipo estamental, onde as funções sociais eram transmitidas de forma hereditária. As relações sociais eram marcadas pelos laços de dependência e de dominação. Os estamentos sociais eram três:
CLERO: constituído pelos membros da Igreja Católica. Dedicavam-se ao ofício religioso e apresentavam uma subdivisão:
- Alto clero- formado por membros da nobreza feudal (papa, bispo, abade)
- Baixo clero- composto por membros não ligados à nobreza (padre, vigário).
NOBREZA: formada pelos grandes proprietários de terra e que se dedicavam à atividade militar e administrativa.
TRABALHADORES: simplesmente a maioria da população. Os camponeses estavam ligados à terra ( servos da gleba ) sendo obrigados a sustentarem os senhores feudais.
Assim, o clero formava o 1º Estado, a nobreza o 2º Estado e os trabalhadores o 3º Estado.
O Sistema feudal também apresentava as chamadas obrigações feudais, uma conjunto de relações sociais onde os servos eram explorados pelos senhores feudais. As principais obrigações feudais
eram:
CORVEIA: obrigação do servo de trabalhar nas terras do senhor(manso senhorial). Toda produção de seu trabalho era do proprietário.
TALHA: obrigação do servo de entregar parte de sua produção na gleba para o senhor feudal.
BANALIDADES: pagamento feito pelo servo pelo uso de instrumentos e instalações do feudo ( celeiro, forno, estrada...).
CRISE DO FEUDALISMO.
A crise do Sistema Feudal tem sua origem no século XI e está relacionada ao crescimento populacional. Este, por sua vez, está relacionado a um conjunto de inovações técnicas, tais como o uso da charrua (máquina de revolver a terra), o peitoril (para melhor aproveitamento da força do cavalo no arado), uso de ferraduras e o moinho d'água.
A estas inovações técnicas, observa-se uma expansão da agricultura, com a ampliação de áreas para o cultivo (conquista dos bosques, pântanos...).
Sabendo-se que a produtividade agrícola era baixa - mesmo com as inovações acima - o crescimento populacional acarreta uma série de problemas sociais: o banditismo, aumento da miséria, guerras internas por mais terras... As Cruzadas foram, neste contexto, uma tentativa para solucionar tais problemas.
AS CRUZADAS.
Foram convocadas pelo papa Urbano II, em 1095, com o objetivo oficial de libertar a Terra Santa (Jerusalém) do domínio muçulmano. No entanto, outros fatores contribuíram para a organização das
Cruzadas: canalizar o espírito guerreiro dos nobres para o oriente; o ideal de peregrinação cristã; o interesse econômico em algumas regiões do oriente e a necessidade de exportar a miséria- em virtude do crescimento populacional.
As principais conseqüências das Cruzadas foram:
- reabertura do mar Mediterrâneo e o desenvolvimento do intercâmbio comercial entre o Ocidente e o Oriente;
- fortalecimento do poder real, em virtude do empobrecimento dos senhores feudais;
- o renascimento urbano.
Renascimento Comercial.
As Rotas
O comércio de produtos na Europa desenvolve-se em dois centros: No Norte da Europa, onde a Liga Hanseática - união de cidades alemãs- através dos mares do Norte e Báltico, monopolizava o
comércio de peles, madeiras, peixes secos, etc...
Na Itália, onde cidades como Veneza e Gênova, monopolizavam o comércio de produtos vindos do Oriente, como a seda, cravo, canela, etc... Estes centros comerciais eram interligados por rotas terrestres, sendo que a mais importante era a de Champagne.
As feiras
Contribuíram para a dinamização do comércio e das trocas monetárias. Desenvolveram-se no encontro de rotas comerciais (os nós de trânsito). A principal feira ocorria na cidade de Champagne, na França.
Renascimento Urbano.
O intenso desenvolvimento comercial colaborou para o desenvolvimento das cidades medievais e de uma nova classe social, a burguesia. A burguesia inicia uma luta pela emancipação das cidades dos
domínios do senhor feudal (movimento comunal .
No interior das cidades (Burgos), a produção urbana estava organizada nas chamadas Corporações de Ofício. ( Guildas na Itália ). O principal objetivo destas organizações era regulamentar a produção,
defendendo o justo preço e praticando o monopólio. O interior da Corporação de Ofício apresentava uma divisão hierárquica, a saber: o mestre, o aprendiz e o jornaleiro - pessoa que recebia por uma jornada de trabalho.
FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS.
A formação das Monarquias Nacionais está associada à aliança entre a burguesia comercial e o rei, efetivada no final da Baixa Idade Média.
O interesse da burguesia nesta aliança era econômico, pois o senhor feudal era um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades: impostos excessivos, pesos e medidas não padronizados e
ausência de unificação monetária. Já o rei, que buscava centralizar o poder político, a classe de
senhores feudais representava seu principal obstáculo (lembre-se que o poder político feudal era fragmentado).
Para fazer valer sua autoridade era necessário a criação de um exército, formado por mercenários. Assim, a burguesia comercial passa a financiar a montagem deste exército. O rei passa a superar o senhor feudal e a impor sua vontade. A centralização do poder político implica na unificação econômica:
Padronização de pesos, medidas e monetária - incentivando as trocas comerciais. A Monarquia passa a criar as Companhias de Comércio, onde o monopólio da atividade comercial ficará a cargo da burguesia.
Monarquia Nacional - caso francês.
DINASTIA DOS CAPETOS: substituição das obrigações feudais por tributos pagos à Coroa, criação de um Exército Nacional.
Durante a Guerra dos Cem Anos ( 1337/1453 ), a nobreza feudal se enfraquece, colaborando para o fortalecimento do poder real.
Filipe Augusto (1180/1223 ) - iniciou a luta contra o domínio inglês;
Luís IX ( 1226/1270) - organização da justiça real;
Filipe IV, o Belo ( 1285/1314 ) - entrou em choque com o Papado, episódio conhecido como o Grande Cisma, quando transferiu a sede do Papado para Avignon.
Monarquia Nacional - caso inglês.
DINASTIA DOS PLANTAGENETAS: No processo de formação da Monarquia Nacional inglesa, destaque para a Magna Carta, documento imposto a João Sem-Terra, que limitava o poder real, sobretudo no que dizia respeito à justiça e à tributação.
Henrique II ( 1154/1189 ) - procurou submeter a Igreja da Inglaterra aos tribunais reais;
Ricardo Coração de Leão ( 1189/1199) - dedicou-se à terceira Cruzada, o reino passou para João Sem-Terra. Em seu governo, os barões ingleses impuseram a Magna Carta, que impunha a liberdade individual e que nenhum homem livre pode sofrer arbitrariedades.
A CRISE DO SÉCULO XIV.
O final da Idade Média é marcado por uma séria crise social, econômica e política - a denominada tríada: a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e a fome, responsáveis pelas revoltas camponesas.
CRISE SÓCIO-ECONÔMICA: Como vimos, a partir do século XI, houve uma expansão da agricultura. Ocorre que as terras de boa qualidade ficam cada vez mais raras, acarretando uma diminuição na produtividade. Soma-se a isto, uma série de transformações climáticas na Europa, responsáveis pela perda de colheitas e gerando uma escassez de alimentos e períodos de fome (1315 a 1317, 1362, 1374 a 1438).
Enfraquecida pela fome, a população européia fica vulnerável às epidemias, como no caso da Peste Negra, trazida do Oriente. Calcula-se que um terço da população européia desapareceu. A epidemia, aliada às sucessivas crises agrícolas, provoca uma enorme escassez de mão-de-obra, levando os servos a fazerem exigências por melhores condições de vida. Muitos servos conseguiam
comprar a sua liberdade. Em algumas regiões, no entanto, às exigências dos servos foram seguidas pelo aumento dos laços de dependência, acarretando as revoltas camponesas.
Tanto em um caso - abertura do sistema, quando o servo adquire a sua liberdade; como no outro - fechamento do sistema, quando os laços de dependência são ampliados - o resultado será o agravamento da crise feudal e o início de um novo conjunto de relações sociais.
CRISE POLÍTICA: O período medieval foi marcado pelos conflitos militares, dada a agressividade da nobreza feudal. Entre estes conflitos,
A Guerra do Cem Anos ( 1337/1453 ) merece destaque. A Guerra dos Cem Anos ocorreu entre o reino da França e o reino da Inglaterra, motivada por motivos políticos - a sucessão do trono francês entre Filipe de Valois e Eduardo III, rei da Inglaterra; e motivos econômicos - a disputa pela região da Flandres, importante área produtora de manufaturas.
Ao longo do combate, franceses e ingleses obtiveram vitórias significativas. Entre seus principais personagens, destaque para a figura de Joana d'Arc, que no ano de 1431 foi condenada à fogueira. Após a sua morte os franceses expulsaram os ingleses, vencendo a guerra.
Esta longa guerra prejudicou a economia dos dois reinos e contribuiu para o empobrecimento da nobreza feudal e, consequentemente, o seu enfraquecimento político. Ao mesmo tempo que a nobreza perdia poder, a autoridade do rei ficava fortalecida, beneficiando o processo de construção das Monarquias Nacionais.
A IGREJA MEDIEVAL.
A principal instituição medieval será a Igreja Católica. Esta exercia um papel decisivo em todos os setores da vida medieval: na organização econômica, na coesão social, na legitimação da dominação
política e nas manifestações culturais.
O clero estava organizado em clero secular (que vivia no mundo cotidiano em contato com os fiéis) e o clero regular (que vivia nos mosteiros, isolando do mundo) que obedecia regras. Trata-se dos beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos. O topo da hierarquia eclesiástica era (e ainda é) ocupada pelo papa. Este exercia dois tipos de poderes, o espiritual (autoridade religiosa máxima) e o poder temporal (poder político decorrente das grandes extensões de terra que a Igreja possuía). O exercício do poder temporal levou a Igreja a envolver-se em questões políticas, como a célebre Querela das Investiduras.
QUERELA DAS INVESTIDURAS.
Questão envolvendo o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Germânico Henrique IV quanto à nomeação de sacerdotes para cargos eclesiásticos.
No Sacro Império Germânico, era o imperador que investia o bispo em suas funções e o papado reagiu contra isto, em virtude do nicolaísmo (desregramento moral do clero) e da simonia (venda de
cargos eclesiásticos). Durante o conflito, o imperador foi excomungado pelo papa, tendo que pedir perdão. Em seguida, Henrique IV atacou Roma, obrigando o papa a fugir. Henrique IV colocou um novo papa - um bispo alemão - que assumiu o poder com o título de Clemente III. O impasse foi
resolvido em 1122, com a Concordata de Worms, quando o papa Gregório reassumi o poder e o imperador abdicou de seu direito de fazer a investidura total dos bispos (a investidura religiosa ficava a cargo do papa).
Movimentos reformistas.
A interferência da Igreja em assuntos políticos, a corrupção eclesiástica, o desregramento moral do clero e a venda de bens eclesiásticos levaram a Igreja a afastar-se de seu ideal religioso. No século XI surgiu um movimento reformista que buscava recuperar a autoridade moral da Igreja, originado a Ordem de Cluny, que tinha por objetivo seguir as regras da Ordem Beneditina (castidade, pobreza,
caridade, obediência, oração e trabalho). O papa Gregório VII, que se envolveu na Querela das Investiduras, havia sido um monge desta ordem.
Outras ordens religiosas surgiram, as chamadas Ordens mendicantes, como a dos cartuxos e dos cistercienses. Pregando a pobreza absoluta e vivendo da caridade, surge a Ordem dos Franciscanos e dos Dominicanos.
INQUISIÇÃO
A perda da autoridade moral da Igreja Católica propiciou o desenvolvimento de uma série de doutrinas, crenças e superstições denominadas heresias, que contrariavam os dogmas da Igreja. Para combater os movimentos heréticos, o papa Gregório IX criou, em 1231, os Tribunais de Inquisição, com a missão de julgar os considerados hereges. Os condenados eram entregues às autoridades
administrativas do Estado, que executavam a sentença.
A Inquisição desempenhava um importante papel político, freando os movimentos contrários aos interesses das classes dominantes.
CULTURA MEDIEVAL.
Referir-se à Idade Média como a "Idade das Trevas" é um grave erro. Tal concepção representa uma visão distorcida do período medieval. Este preconceito com a Idade Média originou-se no século
XVIII com o Iluminismo - fortemente anticlerical. No entanto, o período medieval foi riquíssimo em atividade cultural.
EDUCAÇÃO: controlada pelo clero católico, que dominava as escolas dos mosteiros, escolas paroquiais e as universidades. O surgimento e expansão das universidades estão relacionadas com o desenvolvimento das cidades, bem como o surgimento de uma nova classe social: a burguesia comercial. Os ramos de conhecimento estudados nas universidades medievais eram: Teologia e Filosofia, Letras, Ciências, Direito e Medicina. O ensino era ministrado em latim.
ARTES:
a)Literatura - enaltecer a figura do cavaleiro cristão e suas qualidades: lutar pelo bem público, combater as heresias e defender os pobres, viúvas e órfãos. Na poesia épica exalta-se os torneios, as aventuras e a defesa do cristianismo, tais como A canção de Rolando (século XI ) e El Cid(século XII). Na poesia lírica, predomina o tema do amor espiritualizado e idealizado do cavaleiro pela sua amada. No século XIII, o grande destaque da literatura foi Dante Alighieri, autor da Divina Comédia.
b)Pintura- possuía uma função didática, pois estava associada à divulgação de temas religiosos. Entre os principais pintores medievais, destacam-se Cimabue e Giotto.
c)Escultura- função decorativa e de divulgação dos valores religiosos.
d)Arquitetura- desenvolvimento de dois estilos: o românico e o gótico.
Românico: (séculos XI/XII) - arcos em abóbadas redondos, sustentados por paredes maciças. A catedral de Notre-Dame la Grande em Poitiers é um exemplo deste estilo.
Gótico: ( séculos XII/XVI ) - uso do arco em ponta ou ogival, permitindo a construção de abóbadas bastante amplas. Existência de muitas janelas para melhor iluminação do interior, muito
mais amplo que o estilo românico. O gótico está relacionado com o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano. A catedral de Notre-Dame, em Paris, é um exemplo deste estilo.
e)musica: divulgava os valores cristãos. Destaque para Gregório Magno ( 590/604 ) que implantou o canto gregoriano. Na música popular, destaque para as canções trovadorescas, cujos
temas eram os ideais cristãos.
CIÊNCIAS E FILOSOFIA: A principal corrente filosófica do período foi a Escolástica, que tinha por objetivo conciliar a razão com a fé. Seus principais representantes foram Alberto Magno (1193/1280) e Tomás de Aquino (1225/ 1274). Este último reconstruiu parte das teorias de Aristóteles, dentro de uma visão cristã, na sua obra Summa Theológica. No setor científico, Roger Bacon (1214/1294) defensor da observação e da experimentação como norma científica.
O FEUDALISMO.
I. Origens
O feudalismo europeu é resultado da síntese entre a sociedade romana em decadência e a sociedade bárbara em evolução. Esta síntese resulta nos chamados fatores estruturais para a formação do feudalismo. Roma contribui para a formação do feudalismo através dos seguintes elementos:
- a "villa", ou o latifúndio auto-suficiente;
- o desenvolvimento do colonato, segundo o qual o trabalhador ficava preso à terra;
- a Igreja Cristã, que se tornará na principal instituição medieval.
A crise romana reforça seu poder político local e consolida o processo de ruralização da economia.
Os Bárbaros contribuem com os seguintes elementos:
- uma economia centrada nas trocas naturais;
- o comitatus, instituição que estabelecia uma relação de fidelidade e reciprocidade entre os guerreiros e seus chefes;
- a prática do chamado benefício ( beneficium ), dando imunidade ao proprietário deste;
- o direito consuetudinário, isto é, os costumes herdados dos antepassados possuem força de lei.
Além destes elementos estruturais ( internos ), contribuíram também os chamados elementos conjunturais ( externos ) , que foram as Invasões Bárbaras dos séculos VIII ao IX - os normandos e os
muçulmanos.
Os normandos efetuam um bloqueio do mar Báltico e do mar do Norte e os muçulmanos realizam o bloqueio do mar Mediterrâneo. Estas invasões aceleram o processo de ruralização européia - em curso desde o século III - acentuando a economia agrária e auto-suficiente.
II. Estruturas feudais.
ESTRUTURA ECONÔMICA: a economia era basicamente agropastoril, de caráter auto-suficiente e com trocas naturais. O comércio, embora existisse, não foi a atividade predominante. As terras dos feudos eram divididas em três partes:
- terras coletivas ou campos abertos: de uso comum, onde se recolhiam madeira, frutos e efetuava-se a caça. Neste caso, temos uma posse coletiva da terra.
- reserva senhorial - de uso exclusivo do senhor feudal - é era a propriedade privada do senhor.
- Manso servil ou tenência: terras utilizadas pelos servos. Serviam para manter o sustento destes e para cumprimento das obrigações feudais.
O caráter auto-suficiente da economia feudal dava-se em virtude da baixa produtividade agrícola. O comércio, embora não fosse a atividade predominante, existia sob duas formas: o comércio local - onde realizava-se as trocas naturais; e o comércio a longa distância - responsável pelo abastecimento de determinados produtos, tais como o sal, pimenta, cravo, etc... O comércio a longa distância funcionava com trocas monetárias e, à partir do século XII terá um papel fundamental na economia européia.
ESTRUTURA POLÍTICA.
O poder político era descentralizado, ou seja, distribuído entre os grandes proprietários de terra ( os SENHORES FEUDAIS). Apesar da fragmentação do poder político, havia os laços de fidelidade pessoal ( a vassalagem). Por esta relação estabelecia-se o contrato feudo-vassálico, assim caracterizado:
Homenagem: juramento de fidelidade do vassalo para com o seu suserano;
Investidura: entrega do feudo do vassalo para o suserano. O suserano (aquele que concede o feudo) deveria auxiliar militarmente seu vassalo e também prestar assistência jurídica. O vassalo (aquele que recebe o feudo e promete fidelidade) deve prestar o serviço militar para o suserano e comparecer ao tribunal por ele presidido.
ESTRUTURA SOCIAL.
A sociedade feudal era do tipo estamental, onde as funções sociais eram transmitidas de forma hereditária. As relações sociais eram marcadas pelos laços de dependência e de dominação. Os estamentos sociais eram três:
CLERO: constituído pelos membros da Igreja Católica. Dedicavam-se ao ofício religioso e apresentavam uma subdivisão:
- Alto clero- formado por membros da nobreza feudal (papa, bispo, abade)
- Baixo clero- composto por membros não ligados à nobreza (padre, vigário).
NOBREZA: formada pelos grandes proprietários de terra e que se dedicavam à atividade militar e administrativa.
TRABALHADORES: simplesmente a maioria da população. Os camponeses estavam ligados à terra ( servos da gleba ) sendo obrigados a sustentarem os senhores feudais.
Assim, o clero formava o 1º Estado, a nobreza o 2º Estado e os trabalhadores o 3º Estado.
O Sistema feudal também apresentava as chamadas obrigações feudais, uma conjunto de relações sociais onde os servos eram explorados pelos senhores feudais. As principais obrigações feudais
eram:
CORVEIA: obrigação do servo de trabalhar nas terras do senhor(manso senhorial). Toda produção de seu trabalho era do proprietário.
TALHA: obrigação do servo de entregar parte de sua produção na gleba para o senhor feudal.
BANALIDADES: pagamento feito pelo servo pelo uso de instrumentos e instalações do feudo ( celeiro, forno, estrada...).
CRISE DO FEUDALISMO.
A crise do Sistema Feudal tem sua origem no século XI e está relacionada ao crescimento populacional. Este, por sua vez, está relacionado a um conjunto de inovações técnicas, tais como o uso da charrua (máquina de revolver a terra), o peitoril (para melhor aproveitamento da força do cavalo no arado), uso de ferraduras e o moinho d'água.
A estas inovações técnicas, observa-se uma expansão da agricultura, com a ampliação de áreas para o cultivo (conquista dos bosques, pântanos...).
Sabendo-se que a produtividade agrícola era baixa - mesmo com as inovações acima - o crescimento populacional acarreta uma série de problemas sociais: o banditismo, aumento da miséria, guerras internas por mais terras... As Cruzadas foram, neste contexto, uma tentativa para solucionar tais problemas.
AS CRUZADAS.
Foram convocadas pelo papa Urbano II, em 1095, com o objetivo oficial de libertar a Terra Santa (Jerusalém) do domínio muçulmano. No entanto, outros fatores contribuíram para a organização das
Cruzadas: canalizar o espírito guerreiro dos nobres para o oriente; o ideal de peregrinação cristã; o interesse econômico em algumas regiões do oriente e a necessidade de exportar a miséria- em virtude do crescimento populacional.
As principais conseqüências das Cruzadas foram:
- reabertura do mar Mediterrâneo e o desenvolvimento do intercâmbio comercial entre o Ocidente e o Oriente;
- fortalecimento do poder real, em virtude do empobrecimento dos senhores feudais;
- o renascimento urbano.
Renascimento Comercial.
As Rotas
O comércio de produtos na Europa desenvolve-se em dois centros: No Norte da Europa, onde a Liga Hanseática - união de cidades alemãs- através dos mares do Norte e Báltico, monopolizava o
comércio de peles, madeiras, peixes secos, etc...
Na Itália, onde cidades como Veneza e Gênova, monopolizavam o comércio de produtos vindos do Oriente, como a seda, cravo, canela, etc... Estes centros comerciais eram interligados por rotas terrestres, sendo que a mais importante era a de Champagne.
As feiras
Contribuíram para a dinamização do comércio e das trocas monetárias. Desenvolveram-se no encontro de rotas comerciais (os nós de trânsito). A principal feira ocorria na cidade de Champagne, na França.
Renascimento Urbano.
O intenso desenvolvimento comercial colaborou para o desenvolvimento das cidades medievais e de uma nova classe social, a burguesia. A burguesia inicia uma luta pela emancipação das cidades dos
domínios do senhor feudal (movimento comunal .
No interior das cidades (Burgos), a produção urbana estava organizada nas chamadas Corporações de Ofício. ( Guildas na Itália ). O principal objetivo destas organizações era regulamentar a produção,
defendendo o justo preço e praticando o monopólio. O interior da Corporação de Ofício apresentava uma divisão hierárquica, a saber: o mestre, o aprendiz e o jornaleiro - pessoa que recebia por uma jornada de trabalho.
FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS.
A formação das Monarquias Nacionais está associada à aliança entre a burguesia comercial e o rei, efetivada no final da Baixa Idade Média.
O interesse da burguesia nesta aliança era econômico, pois o senhor feudal era um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades: impostos excessivos, pesos e medidas não padronizados e
ausência de unificação monetária. Já o rei, que buscava centralizar o poder político, a classe de
senhores feudais representava seu principal obstáculo (lembre-se que o poder político feudal era fragmentado).
Para fazer valer sua autoridade era necessário a criação de um exército, formado por mercenários. Assim, a burguesia comercial passa a financiar a montagem deste exército. O rei passa a superar o senhor feudal e a impor sua vontade. A centralização do poder político implica na unificação econômica:
Padronização de pesos, medidas e monetária - incentivando as trocas comerciais. A Monarquia passa a criar as Companhias de Comércio, onde o monopólio da atividade comercial ficará a cargo da burguesia.
Monarquia Nacional - caso francês.
DINASTIA DOS CAPETOS: substituição das obrigações feudais por tributos pagos à Coroa, criação de um Exército Nacional.
Durante a Guerra dos Cem Anos ( 1337/1453 ), a nobreza feudal se enfraquece, colaborando para o fortalecimento do poder real.
Filipe Augusto (1180/1223 ) - iniciou a luta contra o domínio inglês;
Luís IX ( 1226/1270) - organização da justiça real;
Filipe IV, o Belo ( 1285/1314 ) - entrou em choque com o Papado, episódio conhecido como o Grande Cisma, quando transferiu a sede do Papado para Avignon.
Monarquia Nacional - caso inglês.
DINASTIA DOS PLANTAGENETAS: No processo de formação da Monarquia Nacional inglesa, destaque para a Magna Carta, documento imposto a João Sem-Terra, que limitava o poder real, sobretudo no que dizia respeito à justiça e à tributação.
Henrique II ( 1154/1189 ) - procurou submeter a Igreja da Inglaterra aos tribunais reais;
Ricardo Coração de Leão ( 1189/1199) - dedicou-se à terceira Cruzada, o reino passou para João Sem-Terra. Em seu governo, os barões ingleses impuseram a Magna Carta, que impunha a liberdade individual e que nenhum homem livre pode sofrer arbitrariedades.
A CRISE DO SÉCULO XIV.
O final da Idade Média é marcado por uma séria crise social, econômica e política - a denominada tríada: a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e a fome, responsáveis pelas revoltas camponesas.
CRISE SÓCIO-ECONÔMICA: Como vimos, a partir do século XI, houve uma expansão da agricultura. Ocorre que as terras de boa qualidade ficam cada vez mais raras, acarretando uma diminuição na produtividade. Soma-se a isto, uma série de transformações climáticas na Europa, responsáveis pela perda de colheitas e gerando uma escassez de alimentos e períodos de fome (1315 a 1317, 1362, 1374 a 1438).
Enfraquecida pela fome, a população européia fica vulnerável às epidemias, como no caso da Peste Negra, trazida do Oriente. Calcula-se que um terço da população européia desapareceu. A epidemia, aliada às sucessivas crises agrícolas, provoca uma enorme escassez de mão-de-obra, levando os servos a fazerem exigências por melhores condições de vida. Muitos servos conseguiam
comprar a sua liberdade. Em algumas regiões, no entanto, às exigências dos servos foram seguidas pelo aumento dos laços de dependência, acarretando as revoltas camponesas.
Tanto em um caso - abertura do sistema, quando o servo adquire a sua liberdade; como no outro - fechamento do sistema, quando os laços de dependência são ampliados - o resultado será o agravamento da crise feudal e o início de um novo conjunto de relações sociais.
CRISE POLÍTICA: O período medieval foi marcado pelos conflitos militares, dada a agressividade da nobreza feudal. Entre estes conflitos,
A Guerra do Cem Anos ( 1337/1453 ) merece destaque. A Guerra dos Cem Anos ocorreu entre o reino da França e o reino da Inglaterra, motivada por motivos políticos - a sucessão do trono francês entre Filipe de Valois e Eduardo III, rei da Inglaterra; e motivos econômicos - a disputa pela região da Flandres, importante área produtora de manufaturas.
Ao longo do combate, franceses e ingleses obtiveram vitórias significativas. Entre seus principais personagens, destaque para a figura de Joana d'Arc, que no ano de 1431 foi condenada à fogueira. Após a sua morte os franceses expulsaram os ingleses, vencendo a guerra.
Esta longa guerra prejudicou a economia dos dois reinos e contribuiu para o empobrecimento da nobreza feudal e, consequentemente, o seu enfraquecimento político. Ao mesmo tempo que a nobreza perdia poder, a autoridade do rei ficava fortalecida, beneficiando o processo de construção das Monarquias Nacionais.
A IGREJA MEDIEVAL.
A principal instituição medieval será a Igreja Católica. Esta exercia um papel decisivo em todos os setores da vida medieval: na organização econômica, na coesão social, na legitimação da dominação
política e nas manifestações culturais.
O clero estava organizado em clero secular (que vivia no mundo cotidiano em contato com os fiéis) e o clero regular (que vivia nos mosteiros, isolando do mundo) que obedecia regras. Trata-se dos beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos. O topo da hierarquia eclesiástica era (e ainda é) ocupada pelo papa. Este exercia dois tipos de poderes, o espiritual (autoridade religiosa máxima) e o poder temporal (poder político decorrente das grandes extensões de terra que a Igreja possuía). O exercício do poder temporal levou a Igreja a envolver-se em questões políticas, como a célebre Querela das Investiduras.
QUERELA DAS INVESTIDURAS.
Questão envolvendo o papa Gregório VII e o imperador do Sacro Império Germânico Henrique IV quanto à nomeação de sacerdotes para cargos eclesiásticos.
No Sacro Império Germânico, era o imperador que investia o bispo em suas funções e o papado reagiu contra isto, em virtude do nicolaísmo (desregramento moral do clero) e da simonia (venda de
cargos eclesiásticos). Durante o conflito, o imperador foi excomungado pelo papa, tendo que pedir perdão. Em seguida, Henrique IV atacou Roma, obrigando o papa a fugir. Henrique IV colocou um novo papa - um bispo alemão - que assumiu o poder com o título de Clemente III. O impasse foi
resolvido em 1122, com a Concordata de Worms, quando o papa Gregório reassumi o poder e o imperador abdicou de seu direito de fazer a investidura total dos bispos (a investidura religiosa ficava a cargo do papa).
Movimentos reformistas.
A interferência da Igreja em assuntos políticos, a corrupção eclesiástica, o desregramento moral do clero e a venda de bens eclesiásticos levaram a Igreja a afastar-se de seu ideal religioso. No século XI surgiu um movimento reformista que buscava recuperar a autoridade moral da Igreja, originado a Ordem de Cluny, que tinha por objetivo seguir as regras da Ordem Beneditina (castidade, pobreza,
caridade, obediência, oração e trabalho). O papa Gregório VII, que se envolveu na Querela das Investiduras, havia sido um monge desta ordem.
Outras ordens religiosas surgiram, as chamadas Ordens mendicantes, como a dos cartuxos e dos cistercienses. Pregando a pobreza absoluta e vivendo da caridade, surge a Ordem dos Franciscanos e dos Dominicanos.
INQUISIÇÃO
A perda da autoridade moral da Igreja Católica propiciou o desenvolvimento de uma série de doutrinas, crenças e superstições denominadas heresias, que contrariavam os dogmas da Igreja. Para combater os movimentos heréticos, o papa Gregório IX criou, em 1231, os Tribunais de Inquisição, com a missão de julgar os considerados hereges. Os condenados eram entregues às autoridades
administrativas do Estado, que executavam a sentença.
A Inquisição desempenhava um importante papel político, freando os movimentos contrários aos interesses das classes dominantes.
CULTURA MEDIEVAL.
Referir-se à Idade Média como a "Idade das Trevas" é um grave erro. Tal concepção representa uma visão distorcida do período medieval. Este preconceito com a Idade Média originou-se no século
XVIII com o Iluminismo - fortemente anticlerical. No entanto, o período medieval foi riquíssimo em atividade cultural.
EDUCAÇÃO: controlada pelo clero católico, que dominava as escolas dos mosteiros, escolas paroquiais e as universidades. O surgimento e expansão das universidades estão relacionadas com o desenvolvimento das cidades, bem como o surgimento de uma nova classe social: a burguesia comercial. Os ramos de conhecimento estudados nas universidades medievais eram: Teologia e Filosofia, Letras, Ciências, Direito e Medicina. O ensino era ministrado em latim.
ARTES:
a)Literatura - enaltecer a figura do cavaleiro cristão e suas qualidades: lutar pelo bem público, combater as heresias e defender os pobres, viúvas e órfãos. Na poesia épica exalta-se os torneios, as aventuras e a defesa do cristianismo, tais como A canção de Rolando (século XI ) e El Cid(século XII). Na poesia lírica, predomina o tema do amor espiritualizado e idealizado do cavaleiro pela sua amada. No século XIII, o grande destaque da literatura foi Dante Alighieri, autor da Divina Comédia.
b)Pintura- possuía uma função didática, pois estava associada à divulgação de temas religiosos. Entre os principais pintores medievais, destacam-se Cimabue e Giotto.
c)Escultura- função decorativa e de divulgação dos valores religiosos.
d)Arquitetura- desenvolvimento de dois estilos: o românico e o gótico.
Românico: (séculos XI/XII) - arcos em abóbadas redondos, sustentados por paredes maciças. A catedral de Notre-Dame la Grande em Poitiers é um exemplo deste estilo.
Gótico: ( séculos XII/XVI ) - uso do arco em ponta ou ogival, permitindo a construção de abóbadas bastante amplas. Existência de muitas janelas para melhor iluminação do interior, muito
mais amplo que o estilo românico. O gótico está relacionado com o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano. A catedral de Notre-Dame, em Paris, é um exemplo deste estilo.
e)musica: divulgava os valores cristãos. Destaque para Gregório Magno ( 590/604 ) que implantou o canto gregoriano. Na música popular, destaque para as canções trovadorescas, cujos
temas eram os ideais cristãos.
CIÊNCIAS E FILOSOFIA: A principal corrente filosófica do período foi a Escolástica, que tinha por objetivo conciliar a razão com a fé. Seus principais representantes foram Alberto Magno (1193/1280) e Tomás de Aquino (1225/ 1274). Este último reconstruiu parte das teorias de Aristóteles, dentro de uma visão cristã, na sua obra Summa Theológica. No setor científico, Roger Bacon (1214/1294) defensor da observação e da experimentação como norma científica.
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