A Guerra dos Cem Anos
A Guerra envolveu Inglaterra e França, durante o final da Idade Média, época de decadência das estruturas feudais. Apesar dessa situação, destacam-se na Guerra os interesses da facções da nobreza frente ao processo de fortalecimento do poder real.
Introdução
A Guerra dos Cem Anos foi um longo conflito que envolveu a Inglaterra e França entre os séculos 14 e 15, período marcado por transformações socioeconômicas e políticas, que caracterizaram a crise do sistema feudal. O grande crescimento populacional e das cidades, assim como o movimento das Cruzadas, foi responsável pela reativação da produção e do comércio, e deu uma nova dinâmica às sociedades europeias. Do ponto de vista político, os reis fortaleceram e centralizaram o poder, refletindo os novos interesses que se desenvolviam, relacionados à formação de uma camada de mercadores e a adaptação da nobreza e de seus interesses.
Para os mercadores, as estruturas feudais representavam um obstáculo ao desenvolvimento, uma vez que a autonomia de cada feudo permitia que houvesse uma variação muito grande moedas, leis, exércitos, sistema de pesos e de medidas, dificultando a circulação de mercadorias. Por isso os grupos mercantis e, em particular os habitantes dos burgos, tenderam a apoiar a centralização do poder real, com o intuito de unificar os mercados. Apesar de pouco numerosos e considerados como um grupo marginal, os burgueses formavam uma camada nascente que acumulava capitais e contribuía financeiramente para o rei armar seus exércitos.
A formação das nações
O processo de centralização política pode ser percebido desde o século 12, de forma sutil, na medida em que os reis exigiam que seus vassalos se subordinassem a seus tribunais.
A formação das Monarquias nacionais é normalmente apresentada como um processo linear, ou seja, um processo político onde, gradualmente o rei aumenta seu poder ao longo do tempo e, ao contrário, a nobreza e o clero perdem poder e espaço político. Apesar dos grandes interesses em jogo, a centralização do poder real encontrou peculiaridades em cada região europeias ou em cada nação em formação.
Na Península Ibérica, a formação dos reinos está diretamente vinculada a Guerra de Reconquista e mescla interesses feudais e comerciais. O condado portucalense, que deu origem ao Reino de Portugal, era inicialmente, uma possessão feudal, fruto das alianças entre grandes nobres durante a guerra. A independência de Portugal frente à Castela por sua vez, representou a quebra da vassalagem devida até então.
Durante a Baixa Idade Média, a Inglaterra viveu um processo contraditório em relação à disputa política. No início do século 13 a nobreza inglesa impôs ao rei João Sem Terra a “Magna Carta”, documento que estabeleceu limites ao poder real, principalmente em relação às questões jurídicas, tributárias e que envolvessem a guerra; desde 1215 o rei deveria consultar um “Conselho de Nobres” para tomar decisões sobre essas questões. Se por um lado o poder real ficou limitado, por outro foi reconhecido e legitimado, ao mesmo tempo em que possibilitou que as relações entre o rei e a nobreza se tornassem mais equilibradas, garantindo ao rei maior prestígio e subordinação por parte dos súditos, responsáveis por fornecer ao rei os recursos matérias necessários para as guerras. Nesse sentido os exércitos ingleses, formados pelos homens cedidos pelos grandes barões e comandados pelos mesmos, podiam ser considerados mais organizados e disciplinados. Gradualmente o poder real se fortaleceu.
Na França a situação era diferente, a centralização política aparentemente caminhava a passos largos, a vitória de Luis 8º sobre João Sem Terra e a política tributária centralizadora de Felipe, o belo, fizeram com que o poder real fosse reforçado.
Os Atritos
Vários fatores determinaram o aumento de hostilidades entre Inglaterra e França, num primeiro momento, interesses que envolviam os reis e importantes setores da nobreza. No século 12, o rei Henrique II da Inglaterra se casou com Leonor da Aquitânia e, segundo as tradições feudais, tornou-se vassalo do rei da França nos ducados da Guyenna e Gasconha. Desde então as relações entre os reis da Inglaterra e França foram marcadas por conflitos políticos e militares. No entanto, durante esse período não podemos pensar uma guerra entre nações ou países. Mesmo mais tarde, no século 15, durante o famoso episódio que envolveu Joana D'arc, é muito difícil tratar de nação e portanto de nacionalismo. Os conflitos do período muitas vezes tiveram nobres ingleses aliados ao rei da França, em outras ocasiões a situação é inversa. O próprio Henrique II foi vitima de uma conspiração que envolveu seus dois filhos, Ricardo, o coração de leão e João, sem terra, que para destronar o pai se aliaram ao rei da França Filipe Augusto. As disputas envolvendo os dois reinos pelo trono da Inglaterra também servem para demonstrar que a luta pelo poder não tem nacionalidade. A rebelião dos barões ingleses em 1215 que deu origem a Magna Carta atesta essa situação mais uma vez. Os ingleses perderam suas possessões em França.
Outro ponto de atrito entre as duas monarquias era a região de Flandres, rido entreposto comercial, situado a nordeste da França, a qual estava subordinado politicamente. Além do intenso comércio estabelecido na região, Flandres era importante centro produtor de tecidos, que consumia grande parte da lã produzida pela Inglaterra. Essa camada urbana vinculada à produção de tecidos e ao comércio posicionava-se a favor dos interesses ingleses e portanto, contra a ingerência política francesa na região.
No entanto, a situação tornou-se verdadeiramente crítica quando o Conde de Nevers, regente de Flandres desde 1322, prestou juramento de obediência ao seu suserano Filipe de Valois, decisão que poderia paralisar a economia flamenga, pois, com a morte do terceiro e último filho de Filipe IV, o Belo (Carlos IV, 1328), o trono da França passou para um de seus sobrinhos, justamente Filipe de Valois, que adotou o nome de Filipe VI (1328 a 1350). Instigado por Jacques Artervelde, rico mercador que já havia liderado uma rebelião na cidade flamenga de Gand, o rei da Inglaterra Eduardo III (1327 a 1377) reclamou para si a coroa francesa, alegando sua condição de neto (pelo lado materno) de Filipe, o Belo.
A Guerra
Os franceses acusavam os ingleses de desenvolverem uma política expansionista, percebida pelos interesses na Guyenne e em Flandres. Já os ingleses insistiam em seus legítimos direitos políticos e territoriais na França. Em 1337 Felipe VI, de Valois, rei da França, atacou a Guyenne iniciando o conflito que duraria décadas e diversas gerações. Além disso exerceu intenso assédio ao litoral inglês durante meses, até ser derrotado em 1340. Durante o reinado desses dois reis, as Batalhas de Crécy e de Calais, em 1346 e 1347 respectivamente, foram as mais importantes, ambas com vitórias inglesas, que garantiram a Eduardo III importantes posições no norte do país, mantendo o Canal da Mancha sob seu controle. Para tanto o rei da Inglaterra contou com o apoio financeiro de grandes mercadores de Flandres e do duque da Bretanha, que voltou-se contra o monarca francês. O avanço e a conquista inglesa só não forma maiores porque os dois países, como a maior parte da Europa, estavam sendo duramente atingidos pela peste negra, que foi responsável por interromper a guerra.
O período seguinte da guerra foi comandado por Eduardo IV da Inglaterra, conhecido como "o príncipe negro" (por conta da cor de sua armadura), e por João II, conhecido como "o bom", que sucedera ao pai no comando do reino francês. Esse período foi caracterizado por sucessivas vitórias inglesas, contando com o apoio de muitos nobres locais, mais preocupados em preservar seus domínios do que com a lealdade devida ao rei da França, possibilitando o domínio de cerca de um terço do território francês nas regiões norte e oeste.
Em 1356, quando da batalha de Poitiers, o rei João II foi capturado e levado como prisioneiro para a Inglaterra, onde morreria oito anos depois, momento que representou o ápice das conquistas inglesas e, pelo contrário, o momento mais delicado para a França na guerra, forçando-a a assinar o Tratado de Brétigny (1360) que reconhecia o domínio inglês sobre as regiões conquistadas e devolvia os territórios tomados no início do conflito. Após a morte de João II, o bom, o reino francês foi comandado por seu filho, Carlos V que enfrentou sucessivas revoltas camponesas, as mais famosas conhecidas como "Jacqueries", e também urbanas. O rei não reconheceu os acordos anteriores e de 1360 a 1380 obteve vitórias significativas sobre os ingleses retomando grande parte do território perdido. As vitórias desse rei, fruto da reorganização militar, fortaleceram a ideia de centralização política, possibilitou submeter a maior parte da nobreza, aumentar a arrecadação tributária e organizar o Estado com elementos oriundos da burguesia em cargos de confiança.
As últimas décadas do século 14 e as décadas iniciais do século seguinte foram marcadas pelas disputas internas nos dois países, arrefecendo momentaneamente a guerra externa. No caso da Inglaterra ocorreram rebeliões camponesas lideradas por Wat Tyler, contra a servidão e posteriormente as disputas envolveram parte da nobreza, que lutou contra o rei, e culminou com a ascensão de Henrique de Lancaster ao trono em 1399, com o título de Henrique IV. Na França as lutas internas foram mais complexas e envolveram os interesses da região da Borgonha, antigo feudo poderoso, que lutou constantemente por seus interesses particulares. Em Considerando Carlos VI como incapaz, os Borguinhões pretenderam tomar o poder e aliaram-se aos ingleses. Ao lado da família real ficaram o irmão do rei, Luis de Orléans e Bernardo de Armagnac. Nesta guerra civil, destacaram-se João sem medo de Borgonha e o Delfim Carlos, que mesmo deserdado pelo pai manteve a liderança das tropas francesas contra os ingleses e mais tarde assumiria o trono como Carlos VII (1422).
Os conflitos forma retomados desde 1413 por Henrique V, que sucedera o pai e procurou se aproveitar da guerra interna à França. A Batalha de Azincourt em 1415 representa o grande momento da nova ascensão inglesa que, vitoriosa, impôs o Tratado de Troyes, em 1420, aos franceses, que garantia a Inglaterra todo o norte do país, inclusive Paris e, o mais grave, destituía o Delfim Carlos, colocando-se Henrique V da Inglaterra como sucessor do trono francês. Para consolidar tal acordo, Henrique casou-se com Catarina, filha do rei Carlos VI, e portanto irmã do Delfim.
Em 1422 os reis dos dois países morreram. Henrique V da Inglaterra e Carlos VI da França. Oficialmente o trono era herdado por Henrique VI, criança recém nascida, enquanto o Delfim Carlos viria a ser coroado apenas em 1429, em Reims, num momento onde a guerra tomou novo rumo, em grande parte atribuído a figura de Joana D'arc, camponesa que liderou tropas do sul da França em apoio ao rei. A figura de Joana D'arc tornou-se um mito e ainda hoje e tratada dessa maneira pela historiografia predominante. Destaca-se o aspecto religioso nesse processo de mitificação, tanto pelo fato de "ter tido visões" que a levaram a participar da guerra, ou ainda pelo fato de ser transformada em "heroína nacional", numa época em que é praticamente impossível falar em nacionalismo.
A Guerra envolveu Inglaterra e França, durante o final da Idade Média, época de decadência das estruturas feudais. Apesar dessa situação, destacam-se na Guerra os interesses da facções da nobreza frente ao processo de fortalecimento do poder real.
Introdução
A Guerra dos Cem Anos foi um longo conflito que envolveu a Inglaterra e França entre os séculos 14 e 15, período marcado por transformações socioeconômicas e políticas, que caracterizaram a crise do sistema feudal. O grande crescimento populacional e das cidades, assim como o movimento das Cruzadas, foi responsável pela reativação da produção e do comércio, e deu uma nova dinâmica às sociedades europeias. Do ponto de vista político, os reis fortaleceram e centralizaram o poder, refletindo os novos interesses que se desenvolviam, relacionados à formação de uma camada de mercadores e a adaptação da nobreza e de seus interesses.
Para os mercadores, as estruturas feudais representavam um obstáculo ao desenvolvimento, uma vez que a autonomia de cada feudo permitia que houvesse uma variação muito grande moedas, leis, exércitos, sistema de pesos e de medidas, dificultando a circulação de mercadorias. Por isso os grupos mercantis e, em particular os habitantes dos burgos, tenderam a apoiar a centralização do poder real, com o intuito de unificar os mercados. Apesar de pouco numerosos e considerados como um grupo marginal, os burgueses formavam uma camada nascente que acumulava capitais e contribuía financeiramente para o rei armar seus exércitos.
A formação das nações
O processo de centralização política pode ser percebido desde o século 12, de forma sutil, na medida em que os reis exigiam que seus vassalos se subordinassem a seus tribunais.
A formação das Monarquias nacionais é normalmente apresentada como um processo linear, ou seja, um processo político onde, gradualmente o rei aumenta seu poder ao longo do tempo e, ao contrário, a nobreza e o clero perdem poder e espaço político. Apesar dos grandes interesses em jogo, a centralização do poder real encontrou peculiaridades em cada região europeias ou em cada nação em formação.
Na Península Ibérica, a formação dos reinos está diretamente vinculada a Guerra de Reconquista e mescla interesses feudais e comerciais. O condado portucalense, que deu origem ao Reino de Portugal, era inicialmente, uma possessão feudal, fruto das alianças entre grandes nobres durante a guerra. A independência de Portugal frente à Castela por sua vez, representou a quebra da vassalagem devida até então.
Durante a Baixa Idade Média, a Inglaterra viveu um processo contraditório em relação à disputa política. No início do século 13 a nobreza inglesa impôs ao rei João Sem Terra a “Magna Carta”, documento que estabeleceu limites ao poder real, principalmente em relação às questões jurídicas, tributárias e que envolvessem a guerra; desde 1215 o rei deveria consultar um “Conselho de Nobres” para tomar decisões sobre essas questões. Se por um lado o poder real ficou limitado, por outro foi reconhecido e legitimado, ao mesmo tempo em que possibilitou que as relações entre o rei e a nobreza se tornassem mais equilibradas, garantindo ao rei maior prestígio e subordinação por parte dos súditos, responsáveis por fornecer ao rei os recursos matérias necessários para as guerras. Nesse sentido os exércitos ingleses, formados pelos homens cedidos pelos grandes barões e comandados pelos mesmos, podiam ser considerados mais organizados e disciplinados. Gradualmente o poder real se fortaleceu.
Na França a situação era diferente, a centralização política aparentemente caminhava a passos largos, a vitória de Luis 8º sobre João Sem Terra e a política tributária centralizadora de Felipe, o belo, fizeram com que o poder real fosse reforçado.
Os Atritos
Vários fatores determinaram o aumento de hostilidades entre Inglaterra e França, num primeiro momento, interesses que envolviam os reis e importantes setores da nobreza. No século 12, o rei Henrique II da Inglaterra se casou com Leonor da Aquitânia e, segundo as tradições feudais, tornou-se vassalo do rei da França nos ducados da Guyenna e Gasconha. Desde então as relações entre os reis da Inglaterra e França foram marcadas por conflitos políticos e militares. No entanto, durante esse período não podemos pensar uma guerra entre nações ou países. Mesmo mais tarde, no século 15, durante o famoso episódio que envolveu Joana D'arc, é muito difícil tratar de nação e portanto de nacionalismo. Os conflitos do período muitas vezes tiveram nobres ingleses aliados ao rei da França, em outras ocasiões a situação é inversa. O próprio Henrique II foi vitima de uma conspiração que envolveu seus dois filhos, Ricardo, o coração de leão e João, sem terra, que para destronar o pai se aliaram ao rei da França Filipe Augusto. As disputas envolvendo os dois reinos pelo trono da Inglaterra também servem para demonstrar que a luta pelo poder não tem nacionalidade. A rebelião dos barões ingleses em 1215 que deu origem a Magna Carta atesta essa situação mais uma vez. Os ingleses perderam suas possessões em França.
Outro ponto de atrito entre as duas monarquias era a região de Flandres, rido entreposto comercial, situado a nordeste da França, a qual estava subordinado politicamente. Além do intenso comércio estabelecido na região, Flandres era importante centro produtor de tecidos, que consumia grande parte da lã produzida pela Inglaterra. Essa camada urbana vinculada à produção de tecidos e ao comércio posicionava-se a favor dos interesses ingleses e portanto, contra a ingerência política francesa na região.
No entanto, a situação tornou-se verdadeiramente crítica quando o Conde de Nevers, regente de Flandres desde 1322, prestou juramento de obediência ao seu suserano Filipe de Valois, decisão que poderia paralisar a economia flamenga, pois, com a morte do terceiro e último filho de Filipe IV, o Belo (Carlos IV, 1328), o trono da França passou para um de seus sobrinhos, justamente Filipe de Valois, que adotou o nome de Filipe VI (1328 a 1350). Instigado por Jacques Artervelde, rico mercador que já havia liderado uma rebelião na cidade flamenga de Gand, o rei da Inglaterra Eduardo III (1327 a 1377) reclamou para si a coroa francesa, alegando sua condição de neto (pelo lado materno) de Filipe, o Belo.
A Guerra
Os franceses acusavam os ingleses de desenvolverem uma política expansionista, percebida pelos interesses na Guyenne e em Flandres. Já os ingleses insistiam em seus legítimos direitos políticos e territoriais na França. Em 1337 Felipe VI, de Valois, rei da França, atacou a Guyenne iniciando o conflito que duraria décadas e diversas gerações. Além disso exerceu intenso assédio ao litoral inglês durante meses, até ser derrotado em 1340. Durante o reinado desses dois reis, as Batalhas de Crécy e de Calais, em 1346 e 1347 respectivamente, foram as mais importantes, ambas com vitórias inglesas, que garantiram a Eduardo III importantes posições no norte do país, mantendo o Canal da Mancha sob seu controle. Para tanto o rei da Inglaterra contou com o apoio financeiro de grandes mercadores de Flandres e do duque da Bretanha, que voltou-se contra o monarca francês. O avanço e a conquista inglesa só não forma maiores porque os dois países, como a maior parte da Europa, estavam sendo duramente atingidos pela peste negra, que foi responsável por interromper a guerra.
O período seguinte da guerra foi comandado por Eduardo IV da Inglaterra, conhecido como "o príncipe negro" (por conta da cor de sua armadura), e por João II, conhecido como "o bom", que sucedera ao pai no comando do reino francês. Esse período foi caracterizado por sucessivas vitórias inglesas, contando com o apoio de muitos nobres locais, mais preocupados em preservar seus domínios do que com a lealdade devida ao rei da França, possibilitando o domínio de cerca de um terço do território francês nas regiões norte e oeste.
Em 1356, quando da batalha de Poitiers, o rei João II foi capturado e levado como prisioneiro para a Inglaterra, onde morreria oito anos depois, momento que representou o ápice das conquistas inglesas e, pelo contrário, o momento mais delicado para a França na guerra, forçando-a a assinar o Tratado de Brétigny (1360) que reconhecia o domínio inglês sobre as regiões conquistadas e devolvia os territórios tomados no início do conflito. Após a morte de João II, o bom, o reino francês foi comandado por seu filho, Carlos V que enfrentou sucessivas revoltas camponesas, as mais famosas conhecidas como "Jacqueries", e também urbanas. O rei não reconheceu os acordos anteriores e de 1360 a 1380 obteve vitórias significativas sobre os ingleses retomando grande parte do território perdido. As vitórias desse rei, fruto da reorganização militar, fortaleceram a ideia de centralização política, possibilitou submeter a maior parte da nobreza, aumentar a arrecadação tributária e organizar o Estado com elementos oriundos da burguesia em cargos de confiança.
As últimas décadas do século 14 e as décadas iniciais do século seguinte foram marcadas pelas disputas internas nos dois países, arrefecendo momentaneamente a guerra externa. No caso da Inglaterra ocorreram rebeliões camponesas lideradas por Wat Tyler, contra a servidão e posteriormente as disputas envolveram parte da nobreza, que lutou contra o rei, e culminou com a ascensão de Henrique de Lancaster ao trono em 1399, com o título de Henrique IV. Na França as lutas internas foram mais complexas e envolveram os interesses da região da Borgonha, antigo feudo poderoso, que lutou constantemente por seus interesses particulares. Em Considerando Carlos VI como incapaz, os Borguinhões pretenderam tomar o poder e aliaram-se aos ingleses. Ao lado da família real ficaram o irmão do rei, Luis de Orléans e Bernardo de Armagnac. Nesta guerra civil, destacaram-se João sem medo de Borgonha e o Delfim Carlos, que mesmo deserdado pelo pai manteve a liderança das tropas francesas contra os ingleses e mais tarde assumiria o trono como Carlos VII (1422).
Os conflitos forma retomados desde 1413 por Henrique V, que sucedera o pai e procurou se aproveitar da guerra interna à França. A Batalha de Azincourt em 1415 representa o grande momento da nova ascensão inglesa que, vitoriosa, impôs o Tratado de Troyes, em 1420, aos franceses, que garantia a Inglaterra todo o norte do país, inclusive Paris e, o mais grave, destituía o Delfim Carlos, colocando-se Henrique V da Inglaterra como sucessor do trono francês. Para consolidar tal acordo, Henrique casou-se com Catarina, filha do rei Carlos VI, e portanto irmã do Delfim.
Em 1422 os reis dos dois países morreram. Henrique V da Inglaterra e Carlos VI da França. Oficialmente o trono era herdado por Henrique VI, criança recém nascida, enquanto o Delfim Carlos viria a ser coroado apenas em 1429, em Reims, num momento onde a guerra tomou novo rumo, em grande parte atribuído a figura de Joana D'arc, camponesa que liderou tropas do sul da França em apoio ao rei. A figura de Joana D'arc tornou-se um mito e ainda hoje e tratada dessa maneira pela historiografia predominante. Destaca-se o aspecto religioso nesse processo de mitificação, tanto pelo fato de "ter tido visões" que a levaram a participar da guerra, ou ainda pelo fato de ser transformada em "heroína nacional", numa época em que é praticamente impossível falar em nacionalismo.
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